sábado, 16 de fevereiro de 2013

Mais uma vez, Quaresma!


Mais uma vez, oportunidade privilegiada de acolher graças especiais reservadas unicamente a este tempo!
Mais uma vez... a ameaça de chegar ao final dos 40 dias sem ter cumprido os propósitos feitos na 4ª feira de Cinzas: Reconciliação, oração, jejum, penitência, esmola, conversão!
Por que será que todos os anos, de uma forma ou de outra, acabamos por não viver a Quaresma como gostaríamos? Tenho um palpite: porque não nos dispomos de verdade a vivê-la como Deusgostaria. Porque confiamos mais em nós do que nele.
Veja bem: quando iniciamos a Quaresma enchendo-nos de nossos bons e louváveis propósitos, acabamos por desanimar, desistir, talvez até, no 40º dia, nem nos lembrar direito do que nos dispusemos a fazer. Porque aqui - nessa situação infelizmente tão corriqueira em nossa vida espiritual – aqui, a força é nossa, o propósito é nosso, os planos são ... nossos! Resultado: desastre total. Continuamos os mesmos! Nada de ressurreição!
Que tal fazer diferente, este ano? Que tal examinar os últimos meses – ou anos! – de nossa vida e perceber em Deus o que Ele está tentando mudar em nós? Isso dá para saber não somente através do nosso caderno de oração (uma imensa ajuda!), mas especialmente pelo que Deus tentou fazer em nossa vida. Veja bem: vida exterior, mas também interior!
Podemos perguntar a Jesus, sabendo que Ele sempre nos responde: “Senhor, me faz perceber onde Tua graça está agindo – ou tentando agir – nos últimos tempos. Tens tentado me tirar do orgulho? Da vaidade? Do fechamento em mim mesmo? Do ressentimento com alguém? Da pouca oração? Da confiança demasiada em mim mesmo? Dos excessos? Da ridícula mania de achar que posso salvar a mim mesmo?”
A ação do Senhor, não nos esqueçamos, chama-se graça. É ela que muda nossa vida. É a ação do poder de amor do nosso Deus. É com ela que Ele bate à porta e pede, humilde: “Deixa-me entrar. Quero cear contigo!” Cabe a nós, como sabemos, o gesto simples, quase sem esforço, de girar a chave, baixar o trinco e abrir a porta.
Em nosso orgulho, porém, rejeitamos gestos simples. Achamos que abrir a porta para o Senhor que bate supõe que lhe tenhamos preparado aquela super ceia com os mais finos e caros manjares a exibir nossa grandeza. Pobres de nós! Nunca lhe abriremos a porta se estivermos à espera dos tais finos manjares. Só Ele no-los pode dar! Nunca encontraremos o Senhor se quisermos, primeiramente, “estar em condições”. É Ele e somente Ele quem, com sua graça, no-las dá!
Nossa auto-suficiência, aliada à soberba, pode até insinuar veladamente que essa história de graça, de porta, de batida, de ceia não passa de simbologia para nossa busca de conversão, de mudança, de “procurar ser melhor” e por aí vai. Que mania a gente tem de complicar as coisas, meu Deus!
Veja bem: nem você nem ninguém tem a mais ínfima capacidade de mudar sem a graça de Deus. Compreenda que é a graça de Deus que o transforma, não você mesmo! Tudo, mas tudo mesmo, que você algum dia realizou, mudou, cresceu, conseguiu de bom vem não de você, mas da graça!
Ihhhhhh! O que tem de gente que fica indignado ao ouvir isso! Claro, claro, sei que a graça supõe a natureza, que Deus não impõe sua vontade porque respeita sua liberdade, que Ele espera sua colaboração com a graça. Entretanto, me diga se não é verdade que ao ler que tudo, mas tudo mesmo, vem da graça de Deus, pode ter surgido lá no fundo do seu ser uma inquietaçãozinha? Um mal estar meio disfarçado, candidato a ser varrido para baixo do tapete do “não pensar”?
Mais uma vez, na Quaresma, o Senhor bate à sua porta. Esta porta cheia dos pregos pontiagudos e enferrujados do orgulho que rejeitam a submissão à graça. Porta lacrada pela auto-suficiência em todas as suas mínimas brechas. Travada com as barras de ferro da mentalidade da auto-salvação, aquela que tolamente acha que a gente se salva se fizer um monte de coisas boas a partir de nós mesmos.
Acontece que Jesus está acostumado a pregos, negações, barreiras e, insistente, compelido pelo amor, continua a bater. Uma criança, ao ouvir as batidas, irá correr até a porta, pôr-se na ponta dos pezinhos e puxar o trinco, sorrindo, acolhedora. Livre. Sem complicações. Movida pela graça, aberta à graça, sedenta da graça.
Para que essa Quaresma não seja mais um fiasco dos seus bons propósitos, comece desistindo de sua “força de vontade” e abrindo-se à graça. Comece, de preferência antes da Quaresma, seguindo o conselho de Santo Agostinho: "A confissão das más ações é o passo inicial." Depois do sacramento da Reconciliação, como resultado daquela revisão das graças de Deus não correspondidas do 6º parágrafo, tendo reconquistado, por pura graça, o mesmo estado em que você saiu no seu Batismo, corra para a porta e abra, livre, a sorrir, confiante, como uma criança.
Prepare-se para uma avalanche de graça. Em sua pródiga sabedoria, Deus reserva graças especiais para cada tempo litúrgico. Prepare-se, portanto, para uma grande avalanche. Como diz Santa Tereza, Deus se ofende quando lhe pedimos pouco. Ofende-se, portanto, quando esperamos pouco Dele. Ofende-se mais ainda quando não recebemos, não acolhemos, a fartura de graça que nos traz ao bater na porta.
Mais uma vez, Quaresma! Mais uma vez, o Senhor bate à porta! Abra, na ponta de seus pezinhos de criança e prepare-se para colher o fruto incomparável da Ressurreição.
Oração

“Jesus, dá-me a graça de viver esta Quaresma como Tu queres. Mostra-me o que Tu queres mudar em mim. Eis aqui minha primeira colaboração com Tua graça. Quero o que Tu queres. Abro a porta. Entra. Não tenho lá uma ceia muito fina, mas não quero fingir ser o que não sou. Sei que és Tu quem prepara a ceia, não eu. Dá-me a graça de comer e beber dos tesouros da Salvação conquistada por Ti na Paixão e Cruz. Eu a acolho. Acolho também a incomparável graça da Ressurreição que se segue à cruz. Tira o comando de minhas mãos. Guia-me com Tua graça. Amém”

Formação Shalom

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